Não é para qualquer um: não é para os impacientes, nem para os que buscam sossego e recato. Varanasi é sagrada mas não há calma em vida, talvez no ParaÃso, no Nirvana, quando as cinzas do que era o corpo se fundem com as das pilhas de madeira.
Sempre pensei que as coisas espirituais têm agregadas a si paz e uma dose de solenidade ligada a uma reflexão interior, que os outros conseguem claramente perceber do exterior, como quando se observa alguém a rezar em silêncio numa igreja, ou quando se ouve o canto do muezzin nos altifalantes de uma mesquita.
Na cidade mais santa dos Hindus não existe essa privacidade para nos olharmos por dentro. Tudo é público, desde o purificador banho no Rio Ganges (rodeado de peregrinos, trapaceiros, devotos e barqueiros), até à morte, que acontece em abrigos para os que vêm expirar na cidade.
Andar nas ruas de Varanasi é outra experiência de proximidade e de falta de espaço para caminhar, para respirar, para ver os pés: vacas obstruem o caminho; riquexós escapam aos automóveis que se impõem na hierarquia da via pública; bicicletas e tuk-tuks lutam por centÃmetros para passar; e os peões resignam-se e esperam uma oportunidade para avançar.
Varanasi é de uma intensidade que só se percebe experimentando-a. É uma cidade sem meios termos: ou a odiamos ou somos seduzidos.