Natal 1999 – Christmas 1999

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Ilha de Timor  – Dezembro de 1999- © Luís Filipe Catarino
Timor Island  – December 1999 – © Luis Filipe Catarino

Há exactamente 9 anos, passei o Natal mais estúpido da minha vida, metido num quarto de um casebre a que se chamava hotel, em Atambua, no Timor Indonésio. Partilhei umas cervejas “Tiger” de Singapura e um ressequido pão-de-ló indonésio com o meu colega Daniel Ribeiro e assim festejámos o Natal.

Andávamos a fazer uma reportagem sobre as milícias que se escondiam no lado oeste da ilha, mantendo sequestrados muitos timorenses fugidos ou obrigados a ficar em campos de refugiados. Por razões que só alguém sentado numa cadeira em Lisboa conhece, fomos interrompidos na missão de  encontrar os líderes das milícias, em especial Eurico Guterres, para ir cobrir os “preparativos” que os timorenses recentemente vencedores da independência, faziam para a visita do Presidente Jorge Sampaio. Encontrámos, como avisáramos,  apenas algumas pessoas a varrer a rua, e pouco mais.

Para mais,  Jorge Sampaio adoeceu e não pôde deslocar-se a Timor LoroSae, o que fez a nossa ida  ainda mais inútil.

Voltámos a Atambua e tentámos retomar o fio à meada, mas o tempo perdido foi tempo apenas de nos deixar entrar num campo e descobrir, por acaso, um dos líderes das milícias.

Apesar da sua comoção a falar sobre Portugal, o seu olhar condensado de maldade ficou para mim inesquecível e simbólico das atrocidades sofridas pelo povo de Timor.

Gorado o nosso intento de fazer uma reportagem a sério, por decisões de quem não anda no terreno, recusei-me a passar também lá o Ano Novo de uma forma que se adivinhava tão desnecessária como o Natal.

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Exactly 9 years ago, I spent the most stupid Christmas in my life, stuck in a bad-hotel room, in Atambua, in the Indonesian Timor. I shared some singaporean “Tiger” beers and a dry cake with my colleague Daniel Ribeiro. It was our Christmas celebration.

We were doing a feature about the militia that were hiding in the west side of the island, keeping kidnapped many timorese that escaped or were forced to stay in refugee camps. For reasons that only someone sitted in a desk chair in Lisbon knows, the goal of finding the leaders, especially Eurico Guterres,  was interrupted, so we were ordered to cover the preparations that the east-timorese people were making to receive the visit of the Portuguese President Jorge Sampaio. We found, as we warned, very little:  only a few people sweeping the streets and that was all.

More, Jorge Sampaio got sick and his visit was postponed, what made our trip there even more unuseful.

We got back to Atambua and tried to recover the time, but it only allowed us to find, by chance, one of the militia leaders.

Despite his emotion speaking about Portugal, his evil-condensed eyes remain unforgeatable to me, as a symbol of the atrocities made to the timorese people.

With a decision of someone that doesn’t go on the ground ruining our goal of a good report, I refused to spend the New Year in a way that we were guessing as unnecessary as it was Christmas Eve.